Da Velhice

Um processo que concede a cada imagem tempo pensado a cada ponto. O espaço de tempo de produção de cada uma das peças fica marcado com o movimento sucessivo do coser. E o tempo transborda com a imagem para o observador.

[O processo,] O acto de observar detalhadamente, o acto de, ponto a ponto, pensar o observado.
As mãos (também) retratadas sem uma acção que não vaguear ou a de serem simplesmente mãos capazes, mãos que se escondem da conversa num movimento repetidamente impensado. Ou ausente.
O acto de coser a imagem faz da mão um profundo observar. Um reparar entregue. Além de atentarem, estas mãos-olhar, revivem a história em salas de mulheres que consertam, distendem a vida da roupa. Mãos que consertam e criam coisas belas.
A observação neste estado puro de “fazer o olhar” agarra com poética ferocidade a imagem, oferece-a, assim, pensada no fazer. Sem adornos desnecessários. Aquela vida que está ali, é ainda outra mas é uma vida compreendida, é atentada – nem que não seja naquele momento – mas (para mim) é ainda outra.

As mãos desenham o olhar, tornam-se o olhar, compreendem ao desenhar. Questionam o estático da velhice, a sua não acção, a sua distância, o seu congelamento, a sua validez. Questionam ideias mais velhas que a velhice.

Texto de Raquel Balsa

CLIENTE
Trabalho artístico

TÉCNICA
Ilustração bordada

ANO
2016

Inauguração
da exposição

Um trabalho que se inspira em várias coisas. Na doença degenerativa de alguém muito próximo, no filme Amour do realizador alemão Michael Haneke e no livro do filósofo romano Cícero, Da Velhice.
Os desenhos são costurados sobre tecido, imitando a linha negra da caneta, num processo que se revelou longo e por vezes frágil, assim como a velhice que pretendo representar.
Esta exposição esteve patente durante o mês de Março na Quinta da Cruz, em Viseu.